Ana Cristina Duarte
Fim do dia. Vagão lotado. Volto para casa com aquela sensação embrulhada de dever cumprido. Será que me olham como eu os olho? Rostos cansados, pálidos, fatigados. Vai vagar um acento. Corro para chegar primeiro, é uma senhora, então cedo. Dependuro-me novamente no pega-mão. O trem sacode: equilibro, desequilibro. Estou na corda bamba. Então me lembro do circo, infância, brincadeiras, lazer. Acho que estou sobrecarregado de trabalho, melhor mudar o pensamento.
Reparo no senhor lendo o periódico. Política, economia. Nada disso me anima no findar do dia, seria melhor o encarte cultural. O rapaz alto à minha frente me bate num solavanco. – Desculpa, senhor. – Não foi nada, respondo eu. O diálogo morre aí. Para que falar com desconhecidos? O que vamos levar com isso? Ele desce na próxima parada. Nunca mais o verei.
Desocupa um lugar. Sento-me. Entram novos ocupantes. Colegiais. Estes sorriem, falam alto, a vida é só alegria. Ah, a juventude... Novamente me reportando ao passado. Saudosismo. Sai fora, melhor mudar de assunto.
Nova parada. Acho que cochilei. Outros rostos surgem. Devo estar sonhando ainda, pois vejo um Arlequim bem lá no fundo do vagão. Passo a mão nos olhos para ter certeza de não estar mesmo sonhando. Ele parece se aproximar. Vem vindo, vai sentar ao meu lado.
- Com licença, posso me sentar?
- Tem toda. – Respondo.
Me seguro para não ser intrometido, mas me da uma vontade de perguntar por que ele está vestido assim, e mal acabo o pensamento quando ele me diz:
- Que tal um pouco de alegria em sua vida? Muito prazer, sou o palhaço Juarez. Vivo rindo e fazendo os outros sorrir. E você, o que faz para alegrar a vida?
Desço do vagão mais aliviado. Alguém me fez sorrir naquele dia.
quinta-feira, 17 de setembro de 2009
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