quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Façam suas apostas!

Themis Groisman Lopes *

Em meio a tantas controvérsias a respeito da legalização dos bingos e máquinas caça-níqueis no país, não entrarei no mérito da polêmica. Gostaria de abordar o assunto sob outra forma, ou seja, estabelecer uma conceituação capaz de diferenciar o jogo motivado pelo prazer do jogo patológico.
A primeira situação é referente àquelas pessoas que consideram o jogo uma diversão apenas. São indivíduos sadios, que jogam por derivativo, como uma forma de satisfação pessoal. Encaram o jogo como qualquer outro hobby: um esporte, uma academia, uma aula de música, uma corrida, e tantos outros que todos conhecem. A atividade, no caso o jogo, permite com que interajam com outras pessoas, ocupando-se e sentindo-se participativo. Outras vezes encontramos pessoas que solitárias ou mesmo desencantadas com o convívio familiar, procuram fora deste, sentir-se mais valorizadas socialmente. Existem grupos de jogos de carta, que se reúnem uma vez por semana, na casa de cada um, fazendo um rodízio semanal. Estes encontros são úteis para trocarem idéias, fazerem confidências, ou até mesmo para sentirem que tem um compromisso, sendo este também um objetivo. Nesses casos não há geralmente, nenhum envolvimento financeiro. Se houver será apenas simbólico. Muitos freqüentam bingos e cassinos, separando determinada quantia para apostar, nunca a ultrapassam. Tem absoluto controle sobre o que gastam. Nos defrontamos ainda com situações vivenciadas com muita tristeza, como mulheres que ficaram viúvas, ou que perderam um filho. Nestes casos o jogo controlado é um atenuante aos seus corações aflitos.
Agora passaremos o abordar a segunda situação, ou seja: o jogo compulsivo. Esse só passou a ser reconhecido como doença, pela Organização Mundial de Saúde, a partir de 1992, passando a denominar-se Jogo Patológico. Suas principais características são: incapacidade total de controlar o hábito do jogo, mesmo sabendo de todos os malefícios que possa acarretar para suas vidas: tanto financeiro, como familiar e mesmo profissional. O jogador compulsivo tem comprometimento em sua personalidade, como todos aqueles portadores de Transtorno Impulsivo- Compulsivo, ou seja, a tendência natural para a compulsão e impulsividade. O jogador doente dificilmente aceita sua doença, por isso não procura ajuda psicológica. Diz que o jogo é apenas um divertimento e que para quando lhe aprouver. Não aceita perder. Em função disto joga cada vez mais, na tentativa de recuperar o perdido. Fantasia que a sorte vai mudar, não consegue prever o óbvio das desvantagens de suas atitudes. Apresenta um pensamento mágico, não percebendo o que aposta e quanto gasta. Muitos autores referem-se a sensação de euforia que os dependentes ficam, semelhantes aos das drogas e do álcool. Vários perdem imóveis, carros, casamento, amigos, desesperando-se e indo até ao suicídio. No mínimo, diante de todo descalabro, entram em depressão severa. O Jogo Patológico é uma entidade mórbida, não diferente de outras compulsões como: compras compulsivas, trabalho compulsivo, amor compulsivo, emagrecimento compulsivo. Estas pessoas devem ser observadas com carinho, pelos familiares e amigos, que podem auxiliá-los, insistindo no tratamento médico. O mais eficiente meio de tratamento é realizado, com resultados bastante satisfatórios pelo Grupo dos Jogadores Anônimos, que os acolhe, tornado-se continente a toda problemática apresentada, e principalmente objetivando que o jogador reconheça ser doente e apresente o desejo efetivo de tratar-se. Se assim ocorrer, o jogador deve compreender, que nem mesmo por “brincadeira”, poderá sentar-se numa mesa de jogo, pois o risco de recaída será muito grande.
Isto eu aposto.
* Psiquiatra


Texto publicado em 23/09/2009 na página 17 do jornal Zero Hora

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